segunda-feira, 21 de abril de 2008

A incomunicação e a Torre de Babel

Comparação entre as relações sociais de hoje em dia e história mitológica

A incomunicação cada vez mais nos rodeia apesar dos meios de comunicação avançados que vamos possuindo. Isto leva a que cheguemos a um dilema bastante preocupante para a actualidade e o futuro da sociedade de hoje em dia: estaremos a contribuir para o aumento da incomunicação? Estaremos a contribuir para uma nova história da “Torre de Babel”?
(Imagem : Torre de Babel - autor: desconhecido, site: Parceiras BWFIT)

Se uma das maiores ambições do ser humano é compreender e ser compreendido então temos que partir do princípio que a comunicação é algo indispensável para a humanidade. O processo comunicativo é contínuo e dinâmico, permite a partilha de informações e o estabelecimento de relações entre os indivíduos através do envio e recepção simultânea de mensagens. É basicamente, livre, ou seja, tem que existir vontade, não pode haver imposição e é base para expressarmo-nos, manifestarmo-nos e unirmo-nos numa comunidade. Porém, cada vez mais a incomunicação cresce a nossa volta.

“ A comunicação entre os homens não é apenas uma relação de dois pólos, emissor e receptor; ela deve ser compreendida no âmbito mais lato de uma experiência do mundo.” José Manuel dos Santos

Perante estes dias de incomunicação a professora Isabel Guerra do ISCTE em Lisboa diz: “ Na passagem do rural ao urbano, dizia-se que tínhamos perdido a capacidade de socialização que tínhamos nas comunidades rurais”. Segundo o professor João Ferrão do Instituto de Ciências Sociais de Lisboa: “A incomunicação é, mais do que nunca, um desafio”.
A incomunicação consiste na incapacidade de dialogar, de compreender aquilo que nos é transmitido. Não é defeito, não é erro, é característica de quando falamos (José Pimentel Teixeira).

Comunicação e incomunicação de mãos dadas

Nos dias que correm quanto mais se aperfeiçoam os recursos, as técnicas e as possibilidades que o ser humano tem de se comunicar com o mundo, com os outros Homens e consigo mesmo, aumenta também, em idêntica proporção, as suas incapacidades, as suas lacunas, o seu boicote, os seus entraves ao mesmo processo, aumentando assim um território tão antigo quanto esquecido, o território da incomunicação humana. Podemos afirmar que olhando nas sociedades de hoje em dia a comunicação e a incomunicação andam e crescem sempre juntas. E que como não poderia deixar de ser, uma disputa com outra o papel vital de manifestação. De acordo com uma entrevista publicada no jornal alemão “Die Welt”, Umberto Eco considera que a Internet pode gerar uma incomunicação, devido ao facto de cada um poder construir na Internet a sua própria enciclopédia da sabedoria e conhecimento impossibilitando as referências culturais comuns. “Existe o sentimento de que a proliferação das comunicações, dos meios e de actos de comunicação, permitida em larga escala pelas novas técnicas de comunicar, contrasta com uma incomunicação humana que não tem directamente a ver com a materialidade desses meios, mas, antes de mais, com a especificidade da cultura e do sujeito modernos.”, é a opinião de José Manuel dos Santos, professor no departamento de Comunicação e Artes da Faculdade de Artes e Letras da Universidade da Beira Interior que vai ao encontro com as considerações de Umberto Eco.


Incomunicação chega à literatura e aos cinemas

A incomunicação é um tema actual e está presente em vários aspectos da sociedade, como por exemplo na literatura. José Maria Pozuelo Yvancos, no seu estudo “O cânone na teoria literária contemporânea”, afirma que a teoria literária norte-americana parece viver numa acentuada incomunicação. Também Arnaldo Silva, escritor e professor de literatura, pensa que Harold Pinter, dramaturgo inglês distinguido com o prémio Nobel da literatura em 2005, “é um bom representante da incomunicação moderna, dos desajustes conjugais e sociais e da extrema solidão que se pode sentir estando acompanhado”.


Trailler - "Lost in translation"

A incomunicação também já chegou à cinematografia. O filme “Lost in translation” (O amor é um lugar estranho) de Sofia Coppola, tem como tema principal: a comunicação. O trama, realizado em 2003, invoca vários níveis de incomunicação. Confrontada com esta questão, a realizadora afirma que o filme “tem a ver com a relação entre os japoneses e os americanos, mas há também a incomunicação entre pessoas que falam a mesma língua, mas cujos sentimentos não interagem, pessoas que estão perdidas […]”.

Barreiras à comunicação humana

Segundo John Parry, em “Psicologia da comunicação” (1972), a interpretação dos códigos muitas vezes inclui obstáculos à comunicação. A falta de entendimento das mensagens tanto pode causar um mal entendido, deixando muitas impressões de que algo deixou de ser registado. Parry considera que existem sete principais barreiras à comunicação humana: a limitação da capacidade do receptor, a distracção (ruído), a presunção não enunciada, a incompatibilidade dos planos, a intrusão de mecanismos inconscientes ou parcialmente conscientes, a apresentação confusa e a ausência de recursos de comunicação.


A lenda da Torre de Babel – autor: raikkonen3iceman

Semelhanças com história mitológica e bíblica

Nas sociedades de incomunicação actuais até podemos encontrar pontos em comum com a história mitológica e bíblica da “Torre de Babel”. Na narrativa, Deus enfurecido com a ousadia dos homens fez com que todos os que participavam na construção da torre começassem a falar idiomas diferentes para que não se pudessem entender. O mesmo acontece actualmente: o facto de todos termos acesso a meios comunicação cada vez mais avançados, faz com que, curiosamente, deixemos de estabelecer boas comunicações e nos fechemos cada vez mais num mundo só nosso, sem que entendamos e sejamos entendidos por outros.
Apesar da confusão de línguas hoje em dia já não ser o grande problema da incomunicação, as pessoas continuam a não entenderem-se devido a uma má comunicação. “ No que concerne à teoria da comunicação, o principal efeito secundário da comunicação com o mundo é que ela parece deslocar o problema da estranheza e da incomunicação para a comunicação com outrem”, refere José Manuel dos Santos.

Comunicar é essencial

A comunicação é essencial para o ser humano e deve-se sempre tentar reunir as condições certas para que possamos compreender e ser compreendidos, e actualmente não estamos a fazê-lo e isso origina um défice de comunicação.
Quanto mais nos orgulhamos dos bons serviços e dos meios de comunicação de hoje em dia, mais a incomunicação a ganha força e ousadia, provocando estragos, desfazendo e desmontando, distorcendo e deformando, semeando discórdia e gerando falsas expectativas, invertendo sinais e valores, azedando as relações e produzindo incómodos. Tudo isto leva a que cada vez mais exista comparação entre os tempos que decorrem e a história bíblica para a origem das línguas (idiomas), na “Torre de Babel”. José Manuel Santos considera que a “insistência do discurso moderno no tema da comunicação é, pelo menos, um sintoma deste mal-estar-no-mundo. Em todo o caso as propostas terapêuticas da “crise da cultura” formuladas pelo último Husserl e por Merleau-Ponty passam por uma elucidação do “mundo da vida” e apresentam-se, ao mesmo tempo, como teorias e terapias da comunicação”.
“O sujeito moderno não se sente ‘em casa no mundo’. Hanna Arendt diz isto num tom ainda mais dramático ao falar de uma ‘alienação do mundo’.” José Manuel dos Santos

É inútil pensar que a incomunicação age somente na surdina, nos bastidores e em silêncio. Ela encontra-se presente sobretudo nos excessos: excessos de informação, de tecnologia, de luz, de zelo, de visibilidade, de ordem. Como profere Manuel José Santos, “A comunicação com outrem é inserida no âmbito da comunicação fundamental com o mundo; o outro não me afasta da comunicação com o mundo; novas possibilidades da “comunicação” com ele, novos horizontes da experiência do mundo”.

Curiosidades:
Nota: Todos os sites das curiosidades foram consultados no dia 21 de Abril de 2008.


(Reportagem realizada para a disciplina Teoria da Comunicação (1ºano) leccionada pela docente Dina Cristo. Maio 2007)

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Dizem que é uma espécie de coincidência

No início do presente ano lectivo os alunos da Escola Superior de Educação de Coimbra (ESEC) ficaram admirados no primeiro contacto com uma das suas professoras.
"Nós pensavamos que era uma aula fantasma", admitiram os alunos após a primeira aula com a docente, Natividade Costa. É recorrente fazerem-se aulas fantasma nas praxes académicas, em que um aluno faz de professor com o objectivo de intimidar os novos alunos. Tal confusão deve-se ao facto de a professora ter admitido em plena aula ser ditadora, bastante irónica e ter uma atitude pouco simpática para com os alunos.
Confrontada com a situação, a docente diz tratar-se apenas da sua forma habitual de receber os alunos. Qualquer semelhança com as aulas fantasma é pura coincidência!

(Notícia realizada na aula de Técnicas de Expressão Escrita II, disciplina do 2ºsemestre do 1ºano, no dia 24 de Maio de 2007. A notícia foi construída com base no título 'Dizem que é uma espécie de coincidência', sugerido pela professora. O nome da professora utilizado na notícia é fictício.)

domingo, 13 de abril de 2008

1º Post


Olá a todos! :)


Chamo-me Elisabete Paulos Ribeiro, sou aluna do 2ºano de Comunicação Social na Escola Superior de Educação de Coimbra (ESEC) e criei este blog com o objectivo de publicar os trabalhos que vou realizando ao longo do curso e não só. Esses trabalhos são nomeadamente géneros jornalísticos, embora também possa publicar outro tipo de trabalhos.

Tentarei publicar os trabalhos, inicialmente, por ordem de realização (por isso as datas não correspoderão com a actualidade) e mais tarde pretendo publicá-los conforme vou fazendo.


Espero que gostem :)