domingo, 16 de janeiro de 2011

Adopta-me, por favor!

Solidariedade. Pedidos de ajuda online facilitam processos de adopção de animais abandonados

Adopta-me, por favor!

Mais um dia que passa e mais uns animais que são abandonados na rua sem dó nem piedade. Em instituições que ajudam os animais significa que será mais um dia em que terão novos “moradores” que se esperam que sejam apenas temporários. Hoje, na Adopção de Animais, no meio das inúmeras fotografias publicadas na Internet que ilustram cães e gatos que esperam por alguém que possa cuidar deles, pode ler-se o comentário: “hoje está a correr bem”. Infelizmente, nem todos os dias são assim.

Por Elisabete Paulos Ribeiro

“Encontrei o Noel na noite de Natal. Estava a tremer, cheio de frio, todo sujo e enroladinho no meio de silvas”. “Os cães ficaram abandonados no quintal presos com a trela, sem comida nem água”. “Os donos vieram entregá-lo cá porque um vizinho tentou enforcá-lo”. São relatos chocantes como estes que podemos encontrar via online nos sites e nas páginas dedicadas a estas associações que tentam, a todo o custo, responder a todos os pedidos de ajudam que chegam de todas as partes.

Muitas associações, o mesmo objectivo: ajudar os animais em risco

A SOS Animal, Grupo de Socorro Animal de Portugal, é uma instituição de adopção de cães e gatos das mais conhecidas do País. Esta associação fundada por um grupo de pessoas que pretende ajudar animais, como se pode ler no site da Internet, já conta com 1500 colaboradores inscritos e espalhados por Portugal continental e pelas ilhas.

Fundada no dia 20 de Abril de 2010, a Adopção de Animais é uma das mais de trinta páginas do Facebook em que podemos consultar diariamente anúncios de animais para adoptar. Alguns foram deixados em instituições pelos seus donos e procuram outro lar, outros foram abandonados e recolhidos da rua, outros acabaram de nascer e procuram uma família para os criarem, outros simplesmente estão no canil em risco de abate. São imensas fotografias e apenas um único objectivo, arranjar um lar para estes animais. Dar-lhes uma segunda oportunidade.

Foi com o objectivo de ajudar nos processos de adopção que Jorge Diogo e Susana Crespo, fundaram em 2001, a Adopta-me. Esta organização não tem instalações de canil ou gatil, mas através de anúncios colocados na sua página da Internet faz “com que quem procura um animal chegue a um que esteja para adopção, criando assim oportunidades de integrar animais em risco”. Aproximadamente em dez anos, esta fundação sem fins lucrativos, publicou mais de 52 mil anúncios de cães e gatos para a adopção. Actualmente, a Adopta-me contabiliza 267 anúncios no seu site. Jorge Diogo avança que “a adopção de um animal pode significar não só o salvar de uma vida, mas também um passo contra a questão do abandono de animais”.

Segundo os dados avançados pela Adopta-me, 67% dos animais abandonados são cães dos quais mais de metade são Rafeiros Comuns. Já 33% dos gatos abandonados são maioritariamente Europeus Comuns. Estatisticamente falando os animais abandonados são na sua maioria bebés ou jovens e de pequeno ou médio porte. E contrariamente ao que se pensa, que existe uma preferência por optar pelos machos, a média de adopções de machos e fêmeas é igual. O facto de muitas das associações recorrer a veterinários para esterilizar as fêmeas, ajuda muito a estes resultados. No que toca ao número de abandonos, Lisboa, Porto e Setúbal são as zonas mais preocupantes.

Toda a ajuda é bem-vinda!

Tatiana Marinho é uma das jovens que colabora com a Associação Bracarense Amigos dos Animais (ABRA). No site desta organização sem fins lucrativos pode ler-se que foi fundada em Março de 2005 com o objectivo de “ajudar o canil municipal, com o intuito de arranjar o maior número de adopções para os animais abandonados ou dados pelos donos para abate e minimizar o seu sofrimento”. Antes desta associação existir todos os cães e gatos que iam para o canil de Braga eram abatidos! Em Dezembro de 2007 a ABRA já contabilizava, aproximadamente, 1300 cães e 300 gatos adoptados.

Para ajudar a ABRA e muitas destas organizações são necessários inúmeros voluntários que dedicam muito do seu tempo diário a ajudar nas mais diversificadas tarefas: levar os animais ao veterinário ou até às potenciais famílias de adopção, realizar cartazes, folhetos, expositores, participar em campanhas, colaborar para as páginas da Internet, divulgar os pedidos de ajuda, ou simplesmente brincar com os animais e/ou dar-lhes um mimo.

Esta jovem residente em Arcos de Valdevez decidiu disponibilizar algum do seu tempo a ajudar esta instituição “a dignificar as condições dos animais que se encontram no canil para abate”. Para isso, Tatiana divulga casos da instituição através do Facebook, de modo a possibilitar futuros processos de adopção. Segundo a estudante de Medicina Veterinária, a associação “preocupa-se em realojar os animais consoante as necessidades e possibilidades dos futuros adoptantes, para evitar novos abandonos”. Refere ainda que “estas associações deveriam ter mais ajuda de todos nós, seja monetária, ou em bens materiais necessários para os animais”.

E é precisamente com o objectivo de angariar fundos monetários e bens materias necessários para o tratamento dos animais que são realizadas muitas campanhas por parte das fundações de ajuda a animais. Desde de comida a coisas tão simples e básicas como toalhas, mantas, pó de talco, vassouras, esfregonas, baldes, toalhitas para bebé, etc. Toda a ajuda, quer seja a nível de alimentação, quer seja a nível de acessórios e utensílios utéis para estas instituições, é bem-vinda e está ao alcance de todos nós ajudar. Existe também um grande falta de dinheiro para pagar as operações de animais que chegam a estas associações em condições lamentáveis.

Mensalmente, a SOS Animal está a receber cerca de 500 pedidos de ajuda urgente. De modo a suprimir os custos veterinários que estão a ficar insuportáveis, esta associação decidiu abrir uma clínica com a ajuda de todos. Já lá vão dez meses desde que a campanha “Ajude-nos a abrir uma Clínica” foi lançada e com todos os donativos recebidos já foi possível realizar as obras necessárias no espaço onde funcionará a clínica. Desde de Novembro do ano passado que as obras estão concluídas. Agora pouco a pouco estão a ser adquiridos os equipamentos necessários para um consultório veterinário. O próximo objectivo é comprar uma máquina de Raio-X. A compra deste equipamento só será possível com a participação de todos os que desejem colaborar com esta campanha da SOS Animal.

Outro problema com que se deparam estas associações é com a falta de espaço. A capacidade que algumas destas instituições dispõem não é o suficiente para responder a todos os pedidos de ajudam que recebem. A procura acaba por ser muito maior do que a oferta e por vezes as condições não são as melhores. Logo, toda a ajuda é bem-vinda nestas ocasiões e quem poder e quiser ajudar pode tornar-se numa família de acolhimento temporário (FAT) e receber em sua casa animais que estão à espera de serem adoptados.

Amor agora não lhes falta!

No entanto nem tudo é mau e, também, é importante realçar os acontecimentos bons que fazem com que estas organizações continuem a lutar dia-a-dia para que todos os animais tenham um lar e recebam todo o conforto e amor que merecem. É preciso realçar, que assim como existem pessoas que recorrem a instituições de modo a adoptar um animal, também, é certo, que existem pessoas que encontram animais na rua e os levam para casa. Jorge Diogo, refere, na descrição da Adopta-me, que “apresentar a adopção de animais abandonados como alternativa à sua compra em lojas de animais faz sentido em termos sociais e humanistas”.

Foi no passado mês de Junho, Rita Mergulhão Vaz encontrou o Piruças. “Tinha feito horas e sai à meia-noite. Era uma zona industrial e vi um carro a arrancar a toda a velocidade e um cão a correr atrás, ou seja, tinha acabado de ser abandonado”, conta. Lamenta não ter conseguido ver a matrícula do carro. Como já tinha três cães e quatro gatos em casa foi impossível ficar com mais um “residente”. Levou-o então para uma associação e tentou durante seis meses ajudar arranjando associados e donativos, mas não foi o suficiente. Como nunca apareceu ninguém para adoptar o cão, Rita repensou na situação juntamente com o seu namorado e decidiram em conjunto adoptar o Piruças.

“Encontrámos o Anónimo em frente à nossa casa”, conta Álvaro Bastos. O estudante e os amigos com quem partilha casa em Coimbra estavam a regressar a casa e deram com um cachorro sem coleira à porta. Estava abandonado. Decidiram então levá-lo para casa. Deram-lhe banho, levaram-no ao veterinário e compraram as coisas necessárias para o cão. De modo a não estar sempre preso num apartamento, actualmente o Anónimo é feliz na casa do João Nuno, em Vilamar, “onde tem um quintal para brincar”, diz Álvaro.

Sílvia Carmo é mais uma das pessoas que gosta de ajudar os animais. “Tanto eu como a minha mãe não conseguimos ver gatos abandonados”, conta. Na casa dos seus pais, na Marinha Grande, já tem cinco gatos: a Lia, a Luna, o Ronny, a Belinha e a Aninha. Todos foram recolhidos das rua, uns foram encontrados em condições físicas preocupantes, outros “começaram a ir comer lá a casa e foram tornando-se parte da família”, conta. Sílvia é sócia duma fundação que ajuda animais em risco, mas prefere levar os seus gatos a veterinários particulares porque sabe que a instituição não tem muitos recursos financeiros. “Assim podem ajudar os animais que encontram na rua e que precisam mesmo da sua ajuda”, admite. Na sua casa em Lisboa, a comunicadora de 33 anos, tem dois gatos pretos pequenos e está à procura dum terceiro. “Se nós os tratarmos bem eles retribuem e além de companhia, dão-nos miminhos”, diz Sílvia admitindo que nunca foi buscar gatos a uma instituição porque, “como costumo dizer, eles vêm ter connosco e nós vamos ficando com eles”.

Ao contrário de Álvaro, Rita e Sílvia, Tatiana Marinho, recorreu à ABRA para adoptar uma cadela de 9 meses que baptizou de Polly Jean. Esta estudante de Medicina Veterinária recorreu a esta instituição “por saber que são animais que realmente precisam de ajuda”. A jovem refere, ainda, que “o facto de saber que existem maus criadores, que só vêem os animais como fábricas de fazer dinheiro e não lhes têm amor nenhum”, também a ajudou a optar pela ABRA. É com tristeza que adianta que “todos os anos, há milhares de animais a serem abandonados, ou deixados pelos proprietários directamente nos canis, sem se importarem que um dos possíveis destinos dos seus antigos companheiros seja a eutanásia”. A moradora de Arcos de Valdevez revela que a ABRA chegou a ir até à sua residência verificar se a Polly Jean estava a ter realmente a segunda oportunidade que merece.

Também Rui Nascimento quando decidiu que queria um animal de estimação, não hesitou em recorrer à União Zoófila de Lisboa. “Assim fiz um dois em um: arranjei um cão sem qualquer custo e ajudei uma instituição”, confessa o comunicador. O rebelde Nicky vive agora feliz e saudável juntamente com o jovem de 24 anos e a sua família.

São histórias como as destes animais que foram recebidos nos lares de famílas que os ama, ou seja, as histórias com um final feliz, que mantém a chama da esperança acesa. E nunca é demais relembrar as palavras de Mahatma Gandhi: “A grandeza de uma nação e o seu progresso moral podem ser avaliados pelo modo como os seus animais são tratados”. ■
(Reportagem realizada para a disciplina de Atelier de Reportagem, Entrevista e Edição Impressa, leccionada pelo docente Paulo Moura. Janeiro de 2011)

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